Carina, Vítor e Enzo

O meu Enzo nasceu no dia 8 de Novembro de 2012 em Setúbal pelas 22h35.

É um pimpolho pequenito e lindo.

Gostava de partilhar convosco a minha experiência: como sabem, levei a gravidez até às 41 semanas e 6 dias. Era vigiada de 2 em 2 dias em Setúbal graças a uma médica linda (Dra. Cristina se não me engano) que me deu todo o apoio em esperar que a criança decidisse nascer. No entanto acordámos em marcar a indução para dia 8, às 41 semanas e 6 dias devido ao protocolo do hospital e também para continuar a ter hipótese de fazer o parto na água. Apesar de induzida, ela disse-me que se apanhasse a equipa do enfermeiro Vítor e estivesse tudo bem comigo e com o Enzo, o parto na água não seria colocado de parte. Mesmo com a indução marcada, ela garantiu-me que não era obrigada a fazê-la… que poderia simplesmente chegar ao dia e dizer que queria aguardar.
Como podem imaginar (ou não, lol), esta última semana antes de ele nascer foi passada numa pilha de nervos… pressão da família, amigos, conhecidos, desconhecidos… histórias traumáticas… a juntar à pressão de alguns médicos que apanhei em Setúbal (embora tenha sido uma pressão muito, muito suave… digamos que deram a sua opinião algo exagerada, mas não insistiram).

No dia 7 aceitei a indução. Tinha falado com o Vítor e tínhamos decidido aceitar… Ah…! Importante referir que fiz os TPC’s todos: sexo, caminhadas, banhos, comida picante, falei com o Enzo, chás… Nada..! O miúdo tem personalidade e pronto.
Como eu estava a dizer, no dia 7, decidimos aproveitar e fazer tudo o que nos apetecia: comemos mini-pirâmides, bolos, Burguer King, fomos às compras, pipocas.. lol! Um dia da desgraça. Cheguei à cama e pimba: nada de dormir… tal qual as outras noites… a cabeça não parava e a última vez que olhei para o relógio era 1h30 da manhã…
Às 2h30 acordei com uma dor forte na lombar… tipo cólica… fui à casa de banho e não fiz nada… passado pouco tempo tive outra… e mais outra… e mais outra… e não paravam! Comecei a contar e estavam de 5 em 5 minutos e com a duração de 1minuto e pouco. Acordei o Vítor e decidimos esperar. Tomei banho, deitei-me, mas as dores estavam cada vez mais fortes… não estava bem de maneira nenhuma!
Às 5h seguimos para Setúbal. Um nevoeiro cerrado, horrível! A viagem mais longa da minha vida! Demorámos 1 hora e qualquer coisa a chegar porque não passávamos dos 70km/h.
Cheguei lá, subi sozinha (a essa hora, ninguém podia entrar comigo) e fui logo atendida. A enfermeira fez-me o CTG e ficou toda contente porque as contrações estavam fortes e de 3 em 3 minutos… claro que a alegria desapareceu quando ela me observou: colo formado e nada de dilatação.
Fui andar por Setúbal, parando a cada 3 minutos com as dores… O cansaço instalava-se a cada momento! Às 9h decidi aceitar que me internassem. Estava de rastos, tinha tanto sono…
Deitaram-me e a enfermeira Marie (que me deu PPP na piscina) apareceu para me dar miminhos: uma bolsa de água quente para a lombar e uma boa massagem. Consegui dormir, durante 15 minutos, acordando a cada 3 com as contrações. A última, foi tão forte, que eu acordei em pânico e fiz força… resultado, hemorragia enorme. Só queria que o Vítor estivesse comigo… só ele era capaz de me acalmar… e depois pensava na Patrícia (a minha Doula)… como seria bom ela estar lá a “ralhar” comigo! Comecei a ter ataques de pânico: sono com dores com o facto de estar sozinha… mas a enfermeira que estava lá (Maria José) não me deixava sozinha nunca. Fui sempre tão mimada!
Fui para o banho, fiquei pior… a água estava a piorar as dores… como era possível? Ao sair do banho, desmaiei… estava esgotada… não conseguia comer, nem dormir e já eram três da tarde.
Às 17h, eu não estava em condições de aguentar um parto na água… e não estava… estava tão cansada. Veio a Marie, a Maria José, a médica anestesista, o enfermeiro Vítor… todos vieram falar comigo para saber o que eu queria realmente e o que era melhor para mim! 
Acordámos avançar com a epidural, para me dar hipótese de descansar, porque eu não estava a fazer dilatação e eles diziam (e com razão) que a culpa era do cansaço e do facto de eu não estar a relaxar. Mas de salientar, não me ofereceram a epidural! Até pelo contrário…

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Às 17h45 levei a epidural! A médica foi linda comigo e tratou-me tão bem! A Marie ficou a dar-me a mão, enquanto eu levava aquela coisa gelada na coluna. E eu chorava. Não era isto que tinha idealizado. Mas elas sempre a apoiarem-me! Foram incansáveis.
Repousei 20 minutos e levantei-me um bocadinho para andar. Depois fui dormir, de mão dada com o Vítor. Não me tirou as dores, mas tornou-as toleráveis ao ponto de eu dormir até às 20h.
Quem ficou comigo depois foi a enfermeira Sofia! Outro anjo! Quando acordei, ela examinou-me e já tinha os 7 dedos (curiosidade: foi a única a meter o dedo… sempre que era preciso ela era chamada).
Depois fui andar, fazer exercícios, ria-me e sempre que vinha uma contração, já não custava tanto. Não precisava de reforço! Agora estava pronta para aquilo.
Às 21h30, fiquei com vontade de fazer força… a Sofia preparou-se e disse-me: agora faz o que entenderes e mete-te como te apetecer!
Ok… andei, rebolei, meti-me de gatas no chão, de cóqueras, agachada, sentada, deitada e acabei de gatas na marquesa. O Vítor sempre atrás de mim, a fazer-me pressão no sacro e a massajar-me as pernas e a lombar. E eu fazia força quando ela vinha e o Vítor ajudava-me e dizia que estava tudo bem!
A Sofia não sei… lol! Andava com o CTG intermitente para não interferir.
Às 22h e qualquer coisa, ouço o Vítor dizer: “Sofia, está aqui algo estranho… é tipo gelatina”, ela vai ver e diz: “deve ser o cordão… três forças e ele sai Carina”. E foram mesmo três forças!
O Vítor amparou o Enzo, que saiu dentro da bolsa e deixou todos estúpidos a olhar… a Sofia entrou em pânico porque nunca tinha visto algo assim e não via o cordão e pimba: rasgou a bolsa! Líquido por todo o lado!
E o Vítor chorava agarrado a mim e eu de gatas, a repousar a cabeça, sem perceber o que se tinha passado! juro que não estava cá…

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Virei-me, meteram-me o menino em cima e pronto.. o Enzo estava cá fora, com o pai a chorar e a mãe estúpida a olhar para ele. A placenta saiu sozinha em 20 minutos e depois estivemos entretidos a vê-la enquanto a Sofia nos explicava como ela funcionava! Três pontinhos e pronto! Tudo maravilhoso! Menos o banho à gato! A equipa que entrou a seguir não era muito simpática. Só ralhavam com a Sofia por estar tudo com sangue: como se a culpa fosse dela, mas enfim…
Desculpem o testamento… no fundo, não foi na água, mas o meu parto em si foi lindo (apesar de serem tantas horas), pois respeitaram-me tanto, seguiram o meu plano de parto à risca e todos me trataram como senhora do meu parto!
Além do mais, tive sempre muita privacidade, fosse no bloco de partos como no pós parto, que tive a sorte de ficar num quarto individual.
O Hospital de Setúbal para mim, foi o melhor sítio onde podia ter tido o meu filho.

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Texto e fotografias por Carina Calisto


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