Trigémeos. Amor a triplicar.

Partimos de Portugal com bilhete de ida para a Índia, visto de 1 ano de trabalho na Austrália, vontade de nos perdermos no sul da América, numa viagem sem fim à vista e com planos muito flexíveis. Sabíamos no entanto que queríamos aproveitar a distância e a diferença cultural para enriquecer o interior, experimentar, aprender e em última análise purificar. Índia –  Malásia – Bali onde ao fim de alguns meses visitámos uma família linda de amigos meus de infância, que tinham o Santi, um bebé de 8 meses, delicioso e distribuidor de sorrisos!, e que ainda longe da família e sem ajudas, viviam uma vida super tranquila e bonita.

Reconheço que esta visão inspirou-nos. E sem entrar em grandes pormenores, as ilhas Gili (por coincidência 3 ilhas mini perto de Bali) foram o cenário para a única hipótese que demos à sorte. E logo depois de um “reset” aconselhado por um médico ayurveda indiano que consistia em comer apenas PAPAYA por 7 dias. Atribuímos a culpa à Papaya! Entretanto já na Austrália e com a confirmação do teste de que vinha um bebé a caminho não podíamos ter ficado mais felizes. Optámos por esperar até as 20 semanas (5 meses em linguagem de gente) para a primeira ecografia e nem queríamos saber o sexo. Na ecografia mostrava uma imagem cheia de “bolas”, a técnica paralisada dizia “oh my God”, “ooooh my God” e sem descolar os olhos do ecrã chamou o pai para vir CONTAR os bebés. E enquanto eu chorava de pânico, aterrorizada, assustada e sem saber por onde começar, os dois contavam alegremente os vários bebés que eu tinha na barriga… interrompidos pelos meus gritos desesperados “This is insane!!”, o Francisco olha-me nos olhos dá-me a mão e grita de olhos em lágrimas “This is a miracle!!!”. Confesso que foi preciso um fim-de-semana inteiro e muito amor e positivismo do Francisco para aceitar e celebrar a notícia. Depois de contactar a médica e de ter percebido em termos científicos o que se passava dentro de mim, fui aconselhada a voar para Portugal o mais breve possível, e assim o fiz. Apesar da enorme barriga e de ser uma gravidez de alto risco, foi um tempo de grande alegria, introspecção, crescimento e muita paz.

Talvez por isso, e por ter um sogro médico obstetra que me garantiu a melhor equipa a olhar por mim, nunca houve nenhum momento de aflição, nem dor, nem medo. Barrada em óleo de coco 4 vezes por dia, bem alimentada e bem descansada, fazia uma vida minimamente normal. Na madrugada do dia 19 de Novembro de 2016, com 30 semanas e depois de uma jogatana de cartas em família, as águas rebentaram e lá fomos para a Maternidade, onde duas horas depois nasceram por cesariana os meus três ratinhos, com pesos entre 1300 e 1500, e 37 cm. Apesar de me ter sido aconselhado descansar 12 horas, poucas horas depois estava de pé para ir ao serviço de Neonatologia conhecer os meus bebés. Este é um sítio sagrado, onde se vivem emoções de um grau de intensidade inigualável. Guardo no meu coração um respeito e gratidão infinito por todas as pessoas que fizeram com que os meus filhos pudessem viver.

A ideia de impotência e de que não há nada que eu possa realmente fazer excepto confiar foi o maior desafio, e que hoje acredito que me tenha tornado uma pessoa mais forte. 6 semanas depois os meus bebés vieram para casa, onde hibernámos durante quase 2 meses, num quarto quentinho e com muito poucas visitas, até sentir que podíamos ir para o sítio onde escolhemos viver, à beira-mar na Costa Vicentina. Rapidamente percebemos a pedalada do trio e hoje somos uma família muito activa, recebemos muitos amigos e andamos sempre de um lado para o outro, correndo Portugal de norte a sul a visitar amigos e contagiar com a alegria que estes bebés transmitem. Temos avós, tios e tias que nos dão uma boa ajuda sempre que podem, e uma ajuda permanente com a casa e com os bebés, algumas horas por dia. Com muita ginástica o Pai consegue ir pintando uns quadros entre fraldas e biberões, e actualmente constrói a nossa casa em madeira. Eu quero muito voltar a trabalhar umas manhãs a partir do próximo ano. Ao fim de um ano tão intenso, sinto-me preparada e com muita vontade.

Quanto a despesas, a pressão numa mãe para ter tudo e mais alguma coisa é grande e eu dou por mim a procurar soluções em objectos totalmente inúteis, pelo que faço sempre 3 perguntas a mim própria – preciso? preciso novo? preciso de 3? – e geralmente acabo por não comprar. Somos muito ligados à Natureza e procuramos ter uma vida saudável, simples e natural. Por estar em casa e por viver neste sitio ainda autêntico, consigo preparar todas as refeições (na minha melhor amiga panela de pressão de 2L) só com vegetais da horta, cereais nutritivos e proteínas não processadas. Optámos pelo método Baby Led Weaning para que fossem independentes a comer e permitimos que esfreguem a comida pela cara etc, ainda que às vezes seja uma luta com a minha própria paciência. Alternamos entre fraldas de pano e fraldas descartáveis (que ganhámos num concurso e portanto nos custaram 0€), usamos essencialmente roupa de primos e amigos, lavamos rabinhos na pia e só usamos óleo de coco e essência de teatree para curar assaduras. Permitimos que experimentem, que comam areia e se sujem, que vistam qualquer cor, que estejam despenteados e que lambam os frigoríficos (e honestamente a alternativa era estar constantemente frustrada porque sou uma). Mas Ái de quem nos faz quebrar a rotina militar que implementamos para conseguir ter pelo menos 2 sestas / momentos de puro silêncio para restaurar energias. Assim que começarem a dar noites boas (até agora são difíceis, afinal se cada um acordar 2 vezes são 6 interrupções do sono) aventuramo-nos na primeira viagem à séria a 5,  que já andamos a magicar.

Sigam as aventuras desta família aqui: https://www.instagram.com/omg_triplets/

Obrigada Teresa 🙂


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