Respirar para curar

E foi assim, comecei com sonhos aos 4 anos – ser Mãe e Dentista e fui crescendo.

Primeiro fui Dentista e depois chegou a vez de ser Mãe…

Sempre adorei trabalhar com crianças e com prevenção, abordagens que permitissem melhorar a saúde e o crescimento de cada uma…

Estudei, investiguei, tratar a criança e não apenas os dentes.

Quando não estamos bem o nosso corpo adapta-se por compensação. Será possível prevenir? Claro, quanto mais cedo for a abordagem mais nobre será a prevenção.

Quem por aí sabe o que Lamarck disse na sua teoria evolucionista?

“A função cria o órgão e a herança fixa a mudança nos descendentes.”

E foi assim, se uma filha respirava lindamente como a Mãe a outra respirava pessimamente como o Pai. Nem percebi se tinha graça ou não…

Se uma estava bem a outra teria de ser tratada: diagnóstico de otorrino – Hipertrofia de Adenóides.

Começámos atentas a avaliar cada factor:

  • Gravidez – CHECK
  • Parto – 40 semanas
  • Amamentação – CHECK
  • Alimentação- CHECK
  • Mastigação – CHECK
  • Estilo de Vida – CHECK
  • Rotinas – CHECK
  • Sono – CHECK se não adoecesse entretanto…
  • Hábitos – CREDO – dedo, como o Pai, a Avó e sabe Deus mais quem…

E lá estava ela, muco invisível directo ao estômago quando não era aos pulmões, se não descia lá vinha a bronquiolite, e comecei irritante e insistentemente a apoquentar a Fisioterapeuta – a cada respiração diferente – ‘zás’ antes uma sessão de cinesioterapia que fármacos. Aprendemos a evitar aos poucos e a minha técnica de audição e observação foi melhorando. Um dia teve uma otite – ups – e virei o meu estudo dos pulmões ‘prós’ ouvidos. Sou dentista e o otorrino e a pediatra aturavam-me encantadoramente…

O que estaria eu a fazer de errado? Nada – todos me diziam.

Um dia num congresso conheci o Método Buteyko e fez-se luz.

É que era mesmo isso – a minha filha e todos os meninos que acompanho com estas características têm o nariz funcional mas não o utilizam – são respiradores orais e ninguém nota?

É verdade, por isso estão a crescer com alterações nos maxilares, dentes, na coluna, na concentração, têm olheiras – tantas são as crianças como as alterações – como tal hoje já é considerado como uma síndrome – a Síndrome do Respirador Oral.

Em 2015, foi lançado em inglês o manual de ajuda aos Pais – ADENOIDES SEM CIRURGIA – e em 2016 foi editado em Portugal.

Com este Manual tenho o apoio que necessitava para tratar os Respiradores Orais, sejam crianças ou adultos.

A abordagem holística não tem contra-indicações e reflecte anos de estudo do médico e investigador russo Dr. Konstatin Buteyko que na década de 50 descobriu que quem respirasse apenas pelo nariz, suave e lentamente não teria doenças.

Trabalhou com grávidas, asmáticos, e tantas outras condições clínicas – com os resultados cada vez mais concretos, por isso este método integra hoje o sistema de saúde russo.

Com uma abordagem holística e não invasiva temos cada vez mais recuperado a respiração nasal de crianças que muitas vezes já operadas aos adenóides mantêm o padrão de respiração oral. Ao manterem este padrão respiratório recidivam as adenóides (crescem outra vez), muitas ressonam durante a noite, acordam cansadas, fazem ‘xixi’ na cama, não conseguem comer bem ou mastigar, estão recorrentemente doentes e tantos parecem ter os dentes maiores do que a boca.

Voltando aos cá de casa, pois quem tem telhados de vidro não deve falar, ficámos curados, foi preciso dedicação e cuidado. Apontar os erros é fácil. Humilhar não levará ninguém a crescer.

Cá em casa fizemos assim: miúdos e graúdos em constantes joguinhos curtos mas eficazes e ‘já tá’ nem o Pai ressona. Era em casa, no carro, a caminho da escola, onde fosse – ‘Boca fechada’ passou a ser o nosso lema.

Respirar apenas pelo nariz exige técnica e treino – pois a boca abre apenas para falar (a inspiração foi nasal) ou para pôr comida… quanto mais cedo começa o treino mais facilmente se implementa tem de ser com dedicação como todas as crianças gostam de ser educadas com amor.

As Adenóides assim como as Amígdalas são órgãos de protecção e defesa e às tantas de tantos ataques que sofrem deixam de ser desejados e passam a ser vistos como os vilões. Na realidade o que muda é o padrão respiratório e se não nos protegemos passamos a ter doenças crónicas.

Porque será que se dá mais importância à alimentação do que à respiração?

Passamos mais tempo sem comer do que sem respirar, verdade?

Até breve,

Rita


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