Plano de Amamentação

Actualmente começa a ser comum falarmos em Plano de Parto, enquanto sinónimo dos desejos que a grávida/casal/família pretendem para o seu trabalho de parto, parto e pós-parto. Um dos aspectos contemplados é, precisamente, a amamentação. Tendo a amamentação uma importância tão grande não poderá justificar-se a construção de um documento específico – o Plano de Amamentação?

Na amamentação podem existir muitas variáveis ​​em jogo e enquanto o seu trabalho de parto é susceptível de durar algumas horas (ou talvez dias), a amamentação pode continuar durante meses ou anos! O seu plano de amamentação pode ajudá-la a identificar as suas necessidades e preferências e pode ser dado ao seu companheiro e aos profissionais de saúde, de forma a ajudá-los a compreender o que é importante para si e para o seu bebé.

O Plano de Amamentação contempla a preparação da família para todos os aspectos que englobam a amamentação de uma criança. Começa ainda na gravidez, engloba a forma como o trabalho de parto ocorre e como o bebé nasce, procedimentos de rotina após o nascimento, internamento hospitalar e apoio no regresso a casa.

 

GRAVIDEZ

A melhor preparação para a amamentação, durante a gravidez, é a informação.

– Consulte livros, revistas e sites com informação correcta e fidedigna sobre amamentação;

– Realize um Curso de Preparação para a Parentalidade;

– Participe em Grupos de Apoio à Amamentação (tente participar pelo menos uma vez durante a gravidez);

– Prepare a sua rede de suporte em amamentação (à qual poderá recorrer sempre que precisar, após o regresso a casa). Nesta rede de suporte poderá incluir: o seu companheiro (pilar fundamental de suporte que deverá estar, igualmente, bem informado), avós (nem sempre serão uma boa ajuda na amamentação), amigas (apenas aquelas que amamentam/amamentaram com sucesso. As amigas que não amamentaram também são importantes no pós parto mas não como suporte na amamentação), enfermeira (conselheira em aleitamento materno/consultora internacional em lactação – IBCLC), pediatra…

 

TRABALHO DE PARTO E PARTO

A forma como decorre o trabalho de parto e o parto influenciam imenso o estabelecimento da amamentação.

Algumas práticas podem ajudá-la, quando estiver em trabalho de parto, a sentir-se competente, no controlo da situação, apoiada e pronta para interagir com o seu bebé que está alerta:

  • Apoio emocional durante o parto;
  • Ter em conta os efeitos de analgésicos no bebé;
  • Disponibilidade de diferentes estratégias naturais para alívio da dor;
  • Oferecer alimentos leves e bebidas no início do trabalho de parto;
  • Liberdade de movimentos durante o trabalho de parto;
  • Possibilidade de escolha da posição para o período expulsivo;
  • Evitar cesarianas desnecessárias (e todas as intervenções desnecessárias, tais como, episiotomias por rotina, indução de trabalho de parto);
  • Contato precoce entre mãe e bebé;
  • Promover a primeira mamada na primeira hora de vida.

 

PÓS PARTO IMEDIATO (APÓS PARTO VAGINAL OU CESARIANA)

– Sempre que possível, peça para colocarem o seu bebé em contacto pele a pele consigo, logo após o nascimento – De imediato, mesmo antes do corte do cordão umbilical, ou assim que possível nos primeiros minutos após o nascimento. Garanta que esse contato pele a pele continua por pelo menos uma hora após o nascimento.

O contato pele a pele estabiliza o ritmo cardíaco e respiratório do seu bebé e permite manter a temperatura corporal. Auxilia a adaptação metabólica e a estabilização da glicose. Reduz o choro, reduzindo assim o stress e o uso de energia. Possibilita a colonização do intestino do bebé com as bactérias normais do intestino da mãe. Muito importante na vinculação mãe-bebé. Permite que o bebé encontre a mama e faça uma boa pega, o que tem maior

probabilidade de resultar numa sucção efetiva do que quando o bebé é separado

da mãe nas primeiras horas de vida.

Sempre que possível, as avaliações de rotina e todos os procedimentos necessários deverão ser realizados no peito da mãe ou, em alternativa, adiados e realizados após a primeira mamada (por exemplo, se a administração da vitamina K for realizada durante a amamentação ou contacto pele a pele irá contribuir para a diminuição da dor no bebé).

Se por algum motivo não for possível realizar o contacto pele a pele com a mãe, este deverá ser realizado com o pai.

Contacto pele a pele = bebé despido (ou com fralda) + mãe/pai despidos da cintura para cima.

Nota Importante: por todos os benefícios, o contacto pele a pele é uma “ferramenta” à qual a família deverá recorrer sempre que possível, em particular nos primeiros 3 meses de pós parto (o também chamado “4.º trimestre de gravidez” e “exterogestação”).

– É igualmente importante que o seu bebé mame na primeira hora de vida. Idealmente, esta primeira adaptação à mama deve acontecer de forma espontânea pelo bebé e decorrente do contacto pele a pele. Se necessitar de ajuda, solicite-a junto do seu enfermeiro. Não permita que a ajuda oferecida seja a oferta de mamilos artificiais (sem terem sido esgotadas outras opções) ou a oferta de leite artificial. Estas duas estratégias poderão ser necessárias, mas em situações raras. Devendo ser utilizadas de forma muito criteriosa e justificada sob pena de colocarem em risco o sucesso da amamentação.

Ajuda na primeira mamada (“hands off”)

O papel do profissional de saúde nesse momento é:

  • Oferecer tempo e uma atmosfera calma,
  • Ajudar a mãe a encontrar uma posição confortável,
  • Mostrar os comportamentos positivos do bebé como estado de alerta e procura,
  • Aumentar a confiança da mãe,
  • Evitar apressar o bebé para a mama ou empurrar a mama para a boca do bebé.

 

INTERNAMENTO HOSPITALAR/PRIMEIROS DIAS

Existem alguns factores que têm sido associados à amamentação bem-sucedida pelo que será importante contemplá-los no seu plano de amamentação:

Amamentação a pedido – O aleitamento materno precoce e frequente é o único fator que tem consistentemente demonstrado apoiar um bom início da amamentação. A investigação mostra que o aleitamento materno em resposta a sinais iniciais de fome (em oposição às refeições cronometradas ou programadas ou à espera que o bebé fique angustiado e a chorar) ajuda a prevenir a ingurgitamento, diminui a incidência de mamilos dolorosos/com fissuras, diminui a incidência de icterícia, aumenta a taxa de ganho de peso do bebé e aumenta a duração da amamentação. Não olhe para o relógio, olhe para o seu bebé!

Contacto pele a pele – O contato pele-a-pele é importante para estimular as hormonas necessárias para a produção de leite. Também promove a vinculação e o facto de poder abraçar o seu bebé (tanto quanto possível!) dá-lhe uma óptima sensação de bem-estar. E não, não tenha receio que o seu bebé fique viciado no colo ou na mama. O seu bebé precisa de si! Não é possível dar amor a mais a um filho (mas o inverso pode acontecer e com consequências dramáticas).

Alojamento conjunto – Os estudos demonstram que a partilha de ambiente 24 horas por dia entre mãe e bebé aumenta as oportunidades de vinculação e é importante no sucesso da amamentação. As evidências sugerem que as mães mantêm os mesmos períodos de sono, mas de sono profundo, ao contrário das mães que não partilham o ambiente com os seus bebés.

Amamentação exclusiva – Não oferecer ao bebé nada além do leite materno, a menos que seja medicamente necessário. O leite humano fornece todos os nutrientes necessários para o crescimento óptimo do lactente. A investigação mostra que a suplementação por rotina de bebés saudáveis, com água, glicose ou leite artificial é desnecessária e pode interferir no estabelecimento da amamentação. A suplementação pode afectar o suprimento de leite, alterar a flora intestinal do bebé, sensibilizar o bebé para alérgenos e interferir no aumento ponderal.

Apoio na amamentação – É importante que a mãe saiba como fazer uma boa pega e ter apoio dos profissionais de saúde na correcção do posicionamento do bebé e da pega, se for necessário. A mãe deve saber quais os sinais iniciais de fome do bebé e como saber se o bebé está a ser amamentando correctamente.

Não oferecer chupetas ou tetinas ao bebé. Se forem necessários métodos alternativos para administração de leite extraído, optar por seringa, copo ou colher – A investigação tem demonstrado que o uso de chupetas e tetinas no período neonatal é prejudicial à amamentação exclusiva. A sucção na mama requer movimentos de língua e mandíbula muito diferentes da sucção na tetina ou chupeta o que pode levar a dificuldades na adaptação à mama. Por outro lado, regra geral, o fluxo de um biberão é muito mais rápido e fácil que a amamentação o que poderá provocar perda de interesse na amamentação. Quando a alimentação suplementar é medicamente necessária, a alimentação por copo mostrou-se segura para bebés de termo e prematuros e pode ajudar a preservar a duração da amamentação para bebés que necessitam de múltiplas mamadas suplementares.

Se houver preocupações com o peso do bebé, tentar amamentar com mais frequência e implementar outras estratégias com vista a promover mamadas mais eficazes – Quase todas as mães são capazes de produzir leite materno suficiente para seus bebés. Nestes primeiros dias a estimulação, associada a uma pega correcta, são a chave para o sucesso. Se for medicamente justificada a necessidade de oferecer, ao bebé, leite materno extraído ou leite artificial, este deverá ser oferecido através de um sistema de nutrição suplementar(SNS), copo ou finger feeding. O SNS tem a vantagem de fornecer nutrição ao seu bebé, ao mesmo tempo que estimula as mamas a produzirem mais leite e reforça a sensação de segurança e de saciedade que o acto de amamentar induz no bebé (procure ajuda e apoio junto de enfermeiros especialistas em amamentação ou consultores internacionais em lactação – IBCLC).

 

EM CASA

Se necessitar de mais informações ou suporte…

– Recorde-se que a amamentação, embora natural, é uma habilidade aprendida.

– Por vezes, as díades mães/bebés precisam de ajuda para encontrar a forma certa para amamentar e podem surgir problemas. Com o apoio certo no momento certo, a maioria dos problemas de amamentação podem ser resolvidos.

– Lembre-se que o seu bebé necessita muito do seu colo, calor, embalo e proximidade (tudo aquilo que o acto de mamar também lhe oferece, para além de alimento, claro!). A utilização de um porta-bebés ergonómico, logo desde os primeiros dias após o parto, poderá ser um importante auxílio na amamentação e na promoção da vinculação mãe-bebé. A prática de babywearing tem inúmeras outras vantagens que vale a pena conhecer e explorar.

– Recorra ao grupo de suporte que já tinha organizado durante a gravidez.

– Crie uma rotina de participação no Grupo de Apoio à Amamentação que já tinha conhecido durante a gravidez. É um óptimo local de partilha, de esclarecimento de dúvidas e de suporte e ajuda em dificuldades.

– Aceite o auxílio que os familiares e amigos podem oferecer na preparação de refeições, organização e limpeza da casa. Os cuidados ao bebé deverão ficar a cargo dos pais.

“Utilize o mantra: Eu tenho leite! Eu tenho leite! Eu tenho leite!”

 

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