O aborto espontâneo[*] é um dos desfechos possíveis de uma gravidez que começa e por isso tema de um dos blocos de informação tratados no nível 2 dos workshops do Círculo Perfeito.
Não é fácil falar sobre este tema. É um dos “elefantes na sala” da fertilidade.
O motivo desta dificuldade e que impede as mulheres que acompanho e que abortam espontaneamente de falarem abertamente sobre o assunto passa por duas coisas: o sentimento de falha e a sensação de que se perdeu tudo o que estava investido “neste projeto”.
Devido ao silêncio latente, existe sob este tema o fenómeno “me too” – “eu também” – e que passa por descobrirmos amigas, colegas, vizinhas e outras tantas mulheres por aí que quando sabem da nossa perda nos confessam: “a mim também me aconteceu…”
Acredito que se normalizássemos o discurso e partilha sobre estes eventos de vida, seria mais fácil para todas. Poderíamos criar uma rede de apoio entre nós e, tão ou mais importante que isso, ganhar consciência que “isto” não “acontece só a mim”, para não ficarmos a flutuar num mar de culpa, de sobre-análise do que fiz e poderia não ter feito (“será que foi o peso das compras? o sexo de sábado? a ida ao ginásio? a discussão com o chefe?”etc.) que nada – rigorosamente nada – traz de positivo ao entendimento e processamento emocional do que aconteceu.
E porque pode ter consequências emocionais devastadoras, como tudo o que não tem explicação, gosto de acreditar que o enquadramento deste tipo de eventos baseado em factos científicos e em números ajuda a minimizar o impacto da perda e a culpabilização que assola as mulheres que por ela passam. Aqui ficam, à vossa consideração e para reflexão:
Com esta informação por base, sabemos que estes abortos espontâneos não seriam reparáveis (i.e. não há maneira de os inverter ou parar) uma vez que o espoletar do processo tem como princípio a seleção natural e a sabedoria interna do corpo que ao avaliar a viabilidade da gravidez, entende que o material genético produzido não reúne condições para a sua progressão. Trocando isto por português corrente, e para que não haja dúvidas, dificilmente estas gravidezes chegariam a término e, caso isso acontecesse, a probabilidade de estarmos perante um bebé com problemas graves de saúde seria enorme.
Há ainda outros motivos que podem estar relacionados com as perdas, com origem em questões ligadas quer à implantação do ovo quer a questões de saúde da mãe (hormonais, de sistema imunitário, etc.)
Relembro que são factores de risco:
Noutro post falarei sobre sintomas de aborto espontâneo, o que fazer e como fazer, uma vez que a recuperação do corpo depende da forma como o aborto se desenvolve e ocorre. De qualquer forma, estima-se que a recuperação física leve em média 2 semanas.
Há quem aconselhe os casais a retomar as tentativas logo que possível. Eu diria que “o possível” é quando o luto do casal terminar – e isto é muito variável.
Dá-te tempo para fechar este capítulo, para o compreender e aceitar antes de partires para uma próxima. Tudo no corpo tem um tempo. Respeita o teu 💞
[*] Vou excluir as perdas resultantes dos tratamentos de reprodução medicamente assistida; o post trata de abortos espontâneos em gravidezes naturais.
Patrícia Lemos é Educadora para a Saúde Menstrual e para a Fertilidade.
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