De um para dois

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Quando estava grávida, dois dos meus maiores receios eram que a reacção do G. à chegada da irmã não fosse boa e que eu não conseguisse gerir o tempo e a atenção que, até então, dava a um único filho. Na altura, todos me diziam que o coração era elástico e que os ia amar de maneira igual. Não vou mentir. Os primeiros meses não foram fáceis, especialmente ao final do dia, quando dava por mim sozinha com os dois… Agora posso dizer que ter dois filhos é bem diferente de só ter um. Há quem diga que ao terceiro ficamos com ajuda para dar e vender, mas, para já, não quero pensar nisso. Que medo!

A equação fica resolvida, sem variáveis incógnitas: uma cria para cada progenitor. Depois, faz sentido (e é quase uma imposição física) que o recém-nascido fique junto da mãe, e o pai ajude com o mais velho. Tudo certo. Então e nós, o casal? “Olá, bom dia. Como está? Lembra-se de mim?”, dizia eu muitas vezes na brincadeira, quando nos cruzávamos na cozinha. O nosso espaço deixou de existir. Tivemos de o resgatar. Upa! Já está! Não… não é bem assim… A Marta escreveu sobre este assunto e fê-lo muito bem.

Recentemente, quando estive no Congresso Nacional do Bebé, tive o prazer de ouvir o psicólogo Dr. Nuno Reis, que fez uma analogia genial. Todos nós visualizamos o nosso bebé imaginário. Antes de nascer, já sonhamos com aquela que será a cor dos seus olhos, imaginamos que terá o feitio do pai e a perna comprida da avó. Construímos e recheamos o ninho com parafernália que depois constatamos não servir para nada. Estranhamente, da nossa preocupação devia fazer parte o casal imaginário, ou seja, devíamo-nos preocupar em projectar o tipo de relacionamento que queremos ter enquanto pais.

E isto fez-me todo o sentido! Delinear coisas em conjunto, agora que vamos ser uma família. Pensar sobre os afectos e reforçá-los. Apostar na resiliência e na estrutura familiar (um apoio sem preço). Os filhos não salvam casamentos ou uniões ou relações — como lhe queiram chamar! É lindo ter filhos da e com a pessoa que amamos, é. É maravilhoso constatar que existe um bocadinho de ambos naqueles seres, frutos do nosso amor, é. Difícil é mesmo resistir ao cansaço, à privação de sono, ao medo, à solidão do dia-a-dia…

A maternidade pode ser muito solitária, verdade. Mas é uma solidão coletiva — mais outra coisa maravilhosa que a maternidade nos traz. Não somos casos isolados. E a verdade é que, no rosto de cada mãe, vejo cansaço, sim, mas também vejo um amor inabalável, um amor nunca dantes sentido. Agora, esse amor não substitui o espaço de amor no casal. Nunca. Jamais.

Reguem a vossa flor, se é água que lhe falta. Mudem-lhe a terra, se é de novas raízes que ela procura. Nunca se esqueçam de como tudo começou.

Gravidez Parentalidade Pós-parto Vida de Mãe

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