Está lá? eu, ele, a maria e o miguel

Quando descobri o blog da Vera devorei cada post, derreti-me com cada imagem. Decidi contactá-la porque queria mesmo saber o que é isto de ser mãe a tempo inteiro. Não me enganei. Ela tem uma profissão, a mais difícil de todas, ela tem um emprego, onde nunca tem férias, mas o que ela tem não o trocava por nada.

Fala-nos 1 pouco de ti. Quem é a Vera?

Tenho 32 anos, sou lisboeta, filha do meio. Licenciei-me em jornalismo mas nunca exerci. antes de ser mãe trabalhava como gerente de um restaurante onde comecei como empregada de mesa. Tenho fibromialgia desde os 27 anos.

No teu blog conseguimos absorver um pouco dos teus dias numa espécie de diário fotográfico. Como surgiu este projecto?

Sempre gostei de fotografia, o meu pai deu-me a minha primeira máquina aos 14 anos e nunca mais parei. Gosto de fotografar o dia-a-dia, coisas simples, o ambiente, os meus filhos: para um dia, quando forem adultos, poderem ver esta fase. Tenho duas ou 3 fotografias minhas com a idade deles e às vezes tenho pena de não ter mais, de não ter a minha infância em imagens.

Na tua experiência de maternidade, quais foram (ou são) os principais obstáculos?

O grande obstáculo sou eu: é a falta de confiança que às vezes aparece, é a minha capacidade extraordinária de sofrer por antecipação, sou eu e ele a complicar o que é simples, é saber dividir o meu tempo entre eles e o resto: às vezes não sei.

Mãe a tempo inteiro foi uma opção?

Sim, foi uma opção. Pedi a demissão tinha a maria 4 meses.

Como organizas o teu dia com 2 filhos em casa?

Os nossos dias são tudo menos organizados. mas normalmente eles acordam às 7h, faço-lhes o leite e eles ficam na sala: a maria gosta de ver desenhos animados, o miguel prefere brincar, eu vou dando um jeito à casa. quando o pai faz o turno da manhã vai trabalhar às 8. Eu tomo banho- normalmente com os 2 a olhar para mim- visto-me e visto-os. Das 9h às 10h fazemos actividades e depois vamos para o parque até às 11h30. Ao almoço dou-lhes sopa e comida fria [queijo, fruta, vegetais]- eles preferem e facilita-me muito a vida. depois fazem a sesta das 13h às 16h/17h e é nessa altura que trato da casa e faço o jantar. Quando acordam vamos para o parque até à 19h. Depois do banho, jantamos e brincamos até às 21h.
Os dias dependem muito do humor deles, do estado do tempo e às vezes do meu corpo, que não corresponde.

Que conselhos darias às mães, que tal como tu, querem ficar em casa com os filhos?

Bom, não é fácil. Acho que nem todas as mães por muito que adorem os seus filhos conseguem ser mães a tempo inteiro. às vezes é um bocadinho rotineiro e a auto-estima às vezes desaparece. Viver sem ordenado pode ser difícil para algumas pessoas. É preciso poupar mais também, abdicar de algumas coisas. Mas eu adoro, não trocava por nada. É exigente fisicamente, temos que estar sempre disponíveis e ter muita paciência. Descomplicar e levar tudo com calma. Não ser escravas da rotina. A minha casa está sempre desarrumada: limpo e arrumo e quando eles acordam voltamos ao mesmo. É preciso saber lidar com isso também. A prioridade para mim são sempre eles. Prefiro que brinquem no parque com os amigos do que deixá-los em casa para eu a conseguir arrumar. Arranjem um hobby: eu tenho a fotografia. Aprendam coisas novas, que as estimulem: eu ando a aprender crochet. Relaxa-me. Aproveitem, brinquem muito, riam-se com eles, observem-nos. eles crescem depressa.

O teu texto Nós temos tudo, tornou-se viral na internet. Se pudesses mudar alguma coisa na tua vida, o que seria?

Não mudava nada. Gostava obviamente de não ter fibromialgia, mas não me impede de fazer nada. Faço mais devagar, mas faço. Gostava de não querer sempre carregar o mundo às costas: não posso ajudar toda a gente e às vezes pensar nisso desgasta-me. Mas sempre fui assim, não há volta a dar. Honestamente não mudava nada. Se gostava de ter mais dinheiro? se tivesse só um bocadinho mais tinha outro filho. Talvez um dia. Não me falta nada, tenho filhos saudáveis, comida na mesa. E somos felizes.

Obrigada Vera.