O avô morreu e agora?

Quando os meus avós paternos morreram ainda não tinha filhos. Foram as pessoas mais próximas de mim que tinham morrido até à data. Adorava os meus avós e tenho muitas memórias boas deles, no Natal principalmente.

Perder um ente querido com filhos à mistura não é fácil. Quando recebi a notícia, descontrolei-me um pouco e estava sozinha com os miúdos… o G. chegou-se logo ao pé de mim e disse: o avô vai morrer? respondi-lhe que não sabia mas que ele estava a lutar para que isso não acontecesse e o avô M. estava a caminho porque a mãe e o pai tinham de ir ao hospital.

Não me lembro de ficar assim tão triste há muito tempo. Não se explica. Depois vem a revolta, a indignação, os porquês… como dizia uma amiga, somos nada, somos tão pequenos… outra ainda que me disse que Deus escolhia os melhores porque lá em cima faziam falta… ele era mesmo da equipa dos melhores. Daquela raça que já não existe igual. Extremamente trabalhador, correto, amigo, teimoso também… doce… pensei LOGO nela. Carolina. O nome que logo sugeriste quando soubeste que aí vinha uma menina. A filha que não tiveste… o nome da tua companheira de anos, como não Carolina? Tu amavas a Carolina e a Carolina chamava sempre por ti ao chegar a casa.

Eu sabia da sorte de vos ter presente na vida deles. Eu agradecia, e ainda agradeço. Eu pensava muitas vezes neste cenário. Não pensava que fosses tão cedo…

Eu sei o que é este amor de avós, só quem teve um amor assim sabe do que estou a falar. Agora lembrei-me da entrevista sublime do Ricardo Araújo Pereira em que ele fala da avó.

Acho magnífico esta ambiguidade da juventude e da velhice. Tocam em tantos pontos comuns e eu via isso todos os dias. A alegria, o entusiasmo na simplicidade das coisas. A comunicação não verbal. O tempo que nunca falta… Em tempos vi um documentário (não me lembro em que país era) de uma creche e de um lar de idosos no mesmo edifício. Achei maravilhoso esta partilha de sabedoria! se pensarmos faz tanto sentido! Olhar para o nascimento como olhamos para a morte…

Comecei por lhes explicar primeiro a um e depois a outro, muito calmamente o que tinha acontecido. Tentei ser breve e clara. E ouvi. Escutei o que tinham para me dizer. O G. sendo mais velho fez algumas perguntas, não chorou. O difícil foi não chorar em frente deles. Mas aceitei e mostrei o que estava a sentir. Ela chamava por ele todos os dias… partia-me o coração. A avó preferiu dizer-lhe que o avô estava no céu, era uma estrelinha no céu. Eu reforcei e disse que ele gostava muito dela e que não a tinha abandonado… porque ele não queria morrer… ajudou muito ter a Alexandra por perto e ler o que escreveu sobre este tema.

Lembrei-me dos livros. Procuro-os muitas vezes para me darem respostas sem “tocar” diretamente no assunto. Costuma resultar muito bem. E desta vez também. Fui à biblioteca municipal e trouxe comigo uma pequena parte da pesquisa que tinha feito em casa. Deixo-vos aqui alguns títulos. Gostei mais de uns do que de outros, mas foi uma óptima ferramenta para ultrapassar dentro do possível este novo sentimento… saudade. Ele já me disse ter saudades do avô. E assim, antes de se deitarem eu leio os livros e surgem perguntas, emoções e conclusões também.

Hoje ela faz 2 anos. Vemos fotografias tuas, falamos de ti e das galinhas. Ela sorri sempre com entusiasmo quando te vê. Está tão linda a tua menina.

O Rosto da Avó, de Simona Ciraolo

edição: Orfeu Negro, janeiro de 2017

Este livro ganha o prémio de melhor ilustração. Gostei muito.

 

Para Onde Vamos Quando Desaparecemos? de Isabel Minhós Martins; Ilustração: Madalena Matoso

edição: Planeta Tangerina, novembro de 2011

 

A Manta – Uma história aos quadradinhos (de tecido) de Isabel Minhós Martins; Ilustração: Yara Kono

edição: Planeta Tangerina, maio de 2010

Este foi um dos favoritos, não existe morte sem vida.

 

Não É Fácil, Pequeno Esquilo! de Elisa Ramon; Ilustração: Rosa Osuna

edição: Kalandraka, setembro de 2011

Um livro indispensável. Conta a história de um esquilo que perdeu a mãe e como aprende ou reaprende a gerir as suas emoções.

 

O Livro da Avó de Luís Silva

edição: Edições Afrontamento, novembro de 2007

Um livro muito bonito com um formato fora do vulgar. O difícil é não nos comovermos com ele…

 

e ainda:

O Coração e a Garrafa de Oliver Jeffers; Tradução: Rui Lopes

edição: Orfeu Negro, fevereiro de 2010

Um Gato Tem 7 Vidas de Luísa Ducla Soares; Ilustração: Sebastião Peixoto / Illustopia.Com

edição: Porto Editora, S.A., setembro de 2017

Um Avô Inesquecível de Bette Westera

edição: Livros Horizonte, abril de 2005

Avós de Chema Heras; Ilustração: Rosa Osuna

edição: Kalandraka, setembro de 2010

A Avó Adormecida de Roberto Parmeggiani João Vaz de Carvalho

edição: Kalandraka, fevereiro de 2015

A Ilha do Avô de Benji Davies

edição: Orfeu Negro, agosto de 2017

A Incrível Fuga do Meu Avô de David Walliams

edição: Porto Editora, S.A., junho de 2017

O Anjo da Guarda do Avô de Jutta Bauer; Tradução: Alberto Freire

edição: Editora Gatafunho, junho de 2014

A Cadeira Que Queria Ser Sofá! de Clovis Levi

edição: Lápis de Memórias, abril de 2012

O Sapo e o Canto do Melro de Max Velthuijs

edição: Editorial Caminho, abril de 1998

 

Boas leituras.

Made in Portugal Parentalidade Vida de Mãe

Sem comentários